Esclerose Múltipla (EM): o paciente deve tomar o dobro de cuidado!
"Olá a todos, sou Marcos Alvarenga, sou neurologista, trabalho
numa das maiores unidades de esclerose múltipla no Estado do RJ e gostaria de
trazer umas informações que eu vejo importantes diante da pandemia que é o Coronavírus, então tenho
tentado absorver o máximo de informações nas últimas semanas para poder trazer
para vocês as coisas mais pontuais e importantes.
Do ponto de vista médico é um risco grande dos casos
aumentarem e todos nos estamos arriscados à contaminação.
Então vamos falar dos pacientes de esclerose múltipla.
Existem dois pontos importantes nesta discussão, principais. Primeiro deles é somente a doença em si
esclerose múltipla e coronavírus. Na minha visão de neurologista clínico de
trabalhar com EM há mais de 15, 20 anos que mais importa para a gente é que
qualquer infecção, não importa ela qual seja, pode fazer com que o indivíduo
desenvolva a sua doença. Para um paciente de EM o simples fato de infecções
virais já seria o gatilho de aumento de risco de novos surtos.
Diante do coronavírus, num paciente com EM no sentido de
estar sem tratamento algum, o ponto principal seria a gravidade da infecção do
vírus, no caso Corona, e também a possibilidade desse ataque viral fazer com que
o sistema imune do paciente com EM se ative e a doença faça a promoção do novo
surto. Então aí a gente teria um cenário que na verdade todos os pacientes estariam
com este tipo de cuidado: evitar ter infecções, delas as mais comuns, normalmente
em pacientes com EM são infecções
respiratórias altas, otite, sinusite, amigdalite, infecção urinária.
Outro ponto da discussão, que talvez seja o mais importante
é em relação à situação dos tratamentos. Nós estamos encarando da seguinte
forma: Os tratamentos que são os que mobilizam o sistema imune a ficarem mais
reduzidos de atividade são os tratamentos que arriscam mais o paciente a exatamente
desenvolver uma infecção mais grave do Coronavírus.
Todos os tratamentos de EM balançam, equilibram melhor a
imunidade do paciente para que ele não seja atacado da doença. Então a gente tem aí várias medicações que os
pacientes estão atualmente em uso. Vou falar o nome de algumas. Das que menos
interferem no sistema imune: são elas imunomoduladores injetáveis, interferon
beta e o acetato de glatirâmer (Copaxone).
Daí para cima a gente vai lidar com as medicações que mobilizam,
que alteram mais o sistema imune: Aubagio (Teriflunomida), Fumarato de dimetila
(Tecfidera), Fingolimode (Gilenya). E mais acima: Natalizumabe (Tysabri), Ocrelizumabe(Ocrevus),
Alemtuzumabe(Lemtrada).
Estas são as medicações que estão no Brasil já em uso há
alguns meses, no mínimo anos, muitos anos. E a última que foi introduzida no país
foi o Ocrelizumabe e isto já faz alguns anos, mais de um ano com certeza.
Então a situação: deve ter uma cautela maior em relação a
este tipo de paciente que faz uso ou de drogas orais ou de chamados anticorpos
monoclonais, que são estes últimos que eu falei.
E aí para este grupo uma
restrição maior em relação às condutas de prevenção são indicadas, ou seja, evitar
maiores contatos com aglomerações, estar sempre higienizado lavando as mãos,
evitar ficar perto, muito próximo de outras pessoas, se for freqüentar unidade
de saúde, hospitais, clínicas deve ir com maior cuidado, utilizando máscara se
for possível, exatamente porque seu sistema imune no uso destas medicações estará
mais comprometido para te proteger da doença esclerose múltipla, mas te
fragiliza de qualquer tipo de infecção, não só do Coronavírus mas qualquer tipo de
infecção você ficará mais vulnerável."