sábado, 7 de abril de 2018

Minha vida é uma piada parte 2

Prefiro não dizer quem é, por isso vou chamar de "ele".
Na viagem ao nordeste, fiquei sabendo da vida dura dos nordestinos que vêm trabalhar no Rio de Janeiro. Voltei de ônibus e ouvi muitas histórias de pessoas que trabalham de segunda a segunda e de Sol a Sol. Fiquei emocionada com as histórias que ouvi e chorei de emoção.

Eu não tenho esta vida dura destas pessoas, mas tenho outras dificuldades, principalmente financeiras. Passei a adolescência comendo arroz e feijão e mate sem açúcar de lanche ou leite quase puro. Era tímida demais, tinha vergonha de falar com outros sobre o que eu vivia nos meus dias. Passado isto tudo, faço planos para o futuro mas me sinto uma lesma para executar.

Não existem dois certos: a física diz que ou um objeto grande está em um lugar, ou está em outro*. O resultado para uma equação não pode ter mais de uma resposta. Uma resposta para outra área, quer seja ela psicologia, filosofia ou o que for não pode ser "sim" e "não". Esta sou eu unindo várias áreas de conhecimento diferentes.

No ENEM, cerca de 8 milhões de pessoas se inscreveram no ano passado e 2 milhões não fizeram a prova. Sobram 6 milhões e acredito que 3 milhões devem ter tirado uma boa nota. Havia cerca de 200 mil vagas nas Universidades e acredito que metade delas foram preenchidas, pois cerca de metade dos alunos deve ter desistido deixando a vaga para quem estava na lista de espera.

Como as pessoas do Brasil inteiro podem se inscrever para qualquer lugar do país, muitas vezes as pessoas se inscrevem para uma Universidade que não podem de fato estudar. Eu estou parecendo uma delas. Fui até o nordeste pois passei em uma federal de lá. Tive dinheiro para bancar a viagem por 10 dias e minha mãe me ajudou na despesa do hotel, apesar de que eu paguei a comida e passagem.

Fui na alta temporada, época em que as passagens estão mais caras, principalmente de avião. Voltei de ônibus com "ele" e passei dois dias viajando cortando o Brasil de cima a baixo e parando em tudo que é parada para conhecer os lugares, os relevos, o tempo e comer e beber. Fiquei sem bateria de celular, só avisava onde eu estava e que horas eram. Passei mal antes de embarcar, quase desmaiei.

Ele parecia bem, estava falante, mas não mais do que o normal. Foi de grande ajuda na viagem, principalmente quando eu passei mal na rodoviária e meu pensamento ficou lento. Ele trouxe água de coco para mim e lanche e viu que eu precisava embarcar logo para ficar no ar-condicionado. Ele viu que não é que eu seja chique e deva viajar sempre de avião, mas é uma necessidade.

Quando chegamos no Rio, ele estava ansioso, pois achava que passaria num negócio da faculdade que ele estava há anos tentando. Acontece que ele dormiu muito mal na viagem e depois da viagem ele ficou duas semanas sem dormir ou dormir direito ou direto. Ele enlouqueceu temporariamente e chamava a atenção de todos para si, além de arrumar a casa toda e depois desarrumar.

Ele não deixava mais ninguém dormir e eu tive crise de fadiga mas eu não parava de trabalhar em casa, adrenalina a mil e eu não conseguia dormir. Fui dormir fora. Ele ficou de um jeito tão radical que meus pais pediram para que eu fizesse silêncio à noite para que ele pudesse dormir. Pediram para que eu fizesse silêncio à tarde. E também de manhã. Até que eu não aguentei o silêncio. Pirei.

Ele foi levado ao médico e tomou uma injeção muito forte para dormir. Dizem que devo seguir minha vida, realizar meu sonho. Eu não sonhava mais meu sonho, sonhava o sonho dele, se ele não pudesse mais estudar, por que eu poderia? 

Ele voltou a ser quem ele era, mas não sei por quanto tempo. Eu entrei em depressão. Ele não passou no que ele queria e eu fiquei pensando que era minha chance de pensar na minha vida.Cheguei à conclusão que não tenho o suficiente para estudar longe: dinheiro, saúde e algo mais. Não acredito em destino, mas acredito que é mais fácil fazermos aquilo que temos capacidade.

Fui tão longe e gosto do vento fresco do Rio de Janeiro. A sombra e água fresca não vão durar para sempre... Porque eu me arrisquei tanto, não quer dizer que devo me arriscar mais. Os cursos que fiz, o esforço, tudo isso passou. Mas estou tão cansada de ouvir os tiroteios no Rio de Janeiro...!